Próximo dos cem dias de governo, que se completam nesta segunda-feira, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), admitiu ao Estado pela primeira vez que pode deixar o cargo para se candidatar ao governo estadual. Isso caso haja um pedido do governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao qual reforça a fidelidade sempre que confrontado com a possibilidade de uma candidatura a presidente.
Em entrevista para falar dos primeiros dias à frente da Prefeitura da mais importante cidade do País, Doria se mostra no controle de tudo o que ocorre em sua volta e “acelera” ao destacar números e ações como gestor. Sem parar um minuto, compartilha parte da conversa pelo Instagram e admite que o uso das redes sociais já é uma de suas marcas, amplamente copiada.
O senhor tem dito reiterada vezes que vai ‘prefeitar’ pelos quatro anos, mas tem feito, ao mesmo tempo, um discurso nacional e sempre muito crítico ao Lula e ao PT, evocando o antipetismo. Por que manter isso, com Bandeira do Brasil, hino cantado pela Fafá de Belém, se não é candidato a presidente?
Não precisa excluir a Bandeira do Brasil para ser municipalista e defender os temas de São Paulo. Cantar o Hino Nacional também não evoca nenhum antagonismo ao Lula e ao PT, tampouco a Fafá de Belém. E o meu discurso é o mesmo que usei durante a campanha. Não mudei, apesar de não estar em campanha. Mas o meu discurso antipetista vai prosseguir, é muito claro. Preservo a figura do Fernando Haddad porque reconheço nele uma boa pessoa, um fato raríssimo dentro do PT, ele é honesto, mas não poupo o PT nem vou poupar.
Dentro do PSDB, há um desconforto entre aliados do governador Geraldo Alckmin sobre uma possível aproximação sua com o senador Aécio Neves para ser candidato a presidente. Tem acontecido?
Nenhum desconforto. O que tenho feito é administrar a cidade e com uma boa margem de êxito. Uma pesquisa pública (Instituto Paraná) demonstra 70% de índice de aprovação, a maior marca da história para os três primeiros meses de um prefeito em São Paulo e mesmo fora (o Datafolha apontou 44% de aprovação em fevereiro). Muito elevado, o que, evidentemente cria uma onda elevando a outros patamares.
Há uma onda então para levá-lo a disputar a Presidência, o senhor admite?
Existe, mas ela não é nem provocada por nós nem alimentada ou acolhida por nós.
Quando o senhor faz um discurso que termina com “Viva o Brasil, viva o povo brasileiro”, durante uma formatura de sargentos da PM, não está incentivando, provocando essa onda?
Não. A onda é provocada pela eficiência da gestão. Não tenho 70% de aprovação porque falo da Bandeira Brasileira, canto o Hino Nacional ou me refiro ao Brasil. Mas devo afirmar a você que São Paulo é a capital do Brasil.
Por que então rebate comentários de Ciro Gomes ou Fernando Henrique Cardoso, sobre sua suposta candidatura?
Faço de forma bem humorada, gosto desse embate político bem humorado.
Se o nome do senhor surgir de forma competitiva em alguma pesquisa de intenção de voto para presidente, ano que vem, e houver uma pressão do PSDB, pensaria nesta hipótese?
O melhor que posso dar para a democracia brasileira é ser um bom prefeito da cidade de São Paulo, é o que tenho feito. Meu candidato para Presidência da República é o Geraldo Alckmin, já reafirmei isso diversas vezes.
O senhor acha que isso está colando? As pessoas acreditam nisso?
Eu acredito. Não tenho a capacidade de mover as pessoas, mas tenho a capacidade de ser leal e falar a verdade: Geraldo Alckmin é o meu candidato a Presidência da República. É um homem correto, um bom gestor, um bom administrador, um homem em quem eu confio e, além disso, tenho o dever da lealdade com ele.
Ele confia que o senhor não será candidato?
Confia. Sabe da minha lealdade.
E se ele pedir para o senhor ser candidato a governador?
Bom, se ele pedir, mais adiante ou no futuro, vamos analisar essa situação. Hoje ela não existe, não houve apelo. Eu nem sequer trato desse assunto com o governador, que sabe da minha lealdade. Aliás, um dos valores que preservo é a lealdade.
Seria uma traição do senhor pegar a vaga dele no partido na disputa eleitoral?
Seria desleal não manter a minha linha de apoio ao Geraldo Alckmin como meu candidato à Presidência. Ele é um homem correto, um homem bom, fazendo um excelente governo no Estado de São Paulo.
Seria desleal com o Alckmin então ser candidato em 2018?
Nas (atuais) circunstâncias, sim. Ele tem todas as condições para seguir sua trajetória. Defende o que eu defendo: prévias para a Presidência, assim como para o governo do Estado. É um bom caminho, bastante democrático e a melhor antítese ao caciquismo e defesa de privilégios.
Por que falar tanto do Lula então? Parece uma obsessão?
Adoro eles e eles me adoram também.
O senhor acredita que o senador Aécio Neves, depois as últimas delações, ainda pode ser considerado um presidenciável?
É um grande nome, um nome de peso dentro do PSDB. Acredito que ele saberá formular sua defesa e apresentá-la de maneira a ser inocentado. É um homem bom e correto.
O que o senhor achou da declaração do deputado Jair Bolsonaro sobre vocês serem diferentes dos demais políticos?
Não cabe a mim fazer essa análise. Não me autointitulo. Não sou de esquerda nem de direita nem de centro. Sou um gestor, um administrador, não quero fazer política, quero fazer gestão.
O senhor então deixa aberta a possibilidade de ser candidato ao governo, caso Alckmin peça?
Com o Geraldo tenho uma relação de dever, de amizade, de confiança, que será preservado sempre.
O senhor atribui sua popularidade também ao modo como o senhor se relaciona com o eleitorado nas redes sociais?
Sim, é fato. A gestão se faz na prática, naquilo que você realiza, nas boas práticas para a saúde, educação, mobilidade, segurança, para as atividades que compõem a Prefeitura. A comunicação também representa uma forma de prestar contas à população, seja ela sua eleitora ou não. Apenas tenho utilizado esses mecanismos, de uma comunicação presente, transparente e constante.
A população aprova o senhor por que o senhor é bom de marketing ou por que sua gestão é boa?
Pergunte para a população.
O senhor já declarou ser favorável à reforma previdenciária. Recentemente, o presidente Michel Temer retirou os servidores da lista de trabalhadores que serão afetados com as novas normas, repassando essa função aos Estados e Municípios. Existe um projeto de lei em trâmite na Câmara que estabelece teto e aposentadoria complementar para o funcionalismo municipal. O senhor é favorável?
Somos surpreendidos com essa decisão, mas entendo que foi um movimento estratégico para viabilizar a aprovação da nova Previdência no âmbito federal. Como eu apoio essa mudança, preferi de forma resignada não fazer nenhum tipo de manifestação e dar tratos a bola para que o programa de Previdência do Município possa ser implementado. E vamos tomar como referência o que o governo do Estado já vem estabelecendo, bem dentro dessa linha. Talvez não haja necessidade de se aprovar o que está na Câmara. Um grupo de trabalho está estudando esse assunto, mas, muito provavelmente, vamos seguir os mesmos ritos do governo estadual.
Do Estadão