Se olharmos as páginas amareladas pelo tempo dos jornais maranhenses que circularam no dia 05 de outubro de 1897, sem nenhuma dúvida não acharemos nada que registre os acontecimentos da velha Curralinho, mas aquele dia ficaria marcado pela alegria do nascimento de Raimundo de Melo Bacelar em meio tranquilidade do bucólico povoado de Olho d´agua Pequeno.
O fato de ser fruto de um parto prematuro e consequentemente complicado era um prenúncio das inúmeras adversidades que o aguardavam, mas se tratava de alguém forte, que vinha ao mundo para deixar sua marca. O menino cresceu. Era rápido, inteligente, trabalhador, mas por conta da morte do pai, teve que aprender desde cedo a assumir a responsabilidade de cuidar da mãe e dos irmãos.
Pelo destino seria apenas mais um Raimundo, mas esse virou um duque. Passou a ser reverenciado como DUQUE BACELAR. Descendente de família rica, conviveu com a pobreza e por isso mesmo decidiu que escreveria sua própria história. Apesar da pouca instrução era um autoditada, afeito a grandes idéias e a investimentos inovadores. Tanto Curralinho como Coelho Neto experimentaram suas iniciativas pioneiras. Através dele a cidade teve seu primeiro agrônomo, recebeu investimentos para fortalecimento da agricultura, garantiu-se a construção do primeiro Grupo Escolar, experimentou a modernidade da luz elétrica, vislumbrou a construção do primeiro campo de aviação e da Igreja Matriz de Sant´Ana de quem era devoto.
A ascensão do dono da Fazenda Itapirema era tamanha, que começou a chamar atenção de “gente grande” da capital, ao ponto de um dos jornais da época fazer uma reportagem especial sobre suas atividades comerciais. O abastado empresário passou a ser líder político, período de intenso trabalho e muito prestígio. “Seu Duque” chegou a ser eleito Prefeito de Coelho Neto e partir de então teve uma carreira meteórica, porém curta.
Casado com dona Maria Bacelar (a grande companheira de todas horas), foi pai de 11 filhos sobreviventes (dos quais oito ainda estão vivos), mas soube ensiná-los o bom caminho da educação, da honradez e do amor a terra. O crescimento de um patrimônio amealhado à custa de suor e lágrimas lhe renderiam o cultivo de inimigos poderosos que por duas vezes tentaram contra a sua vida, conseguindo lhe ferir de forma brutal na última tentativa.
Apesar da morte prematura com apenas 57 anos, Duque conseguiu transferir para os filhos o seu espírito arrojado. Foram eles que liderados pelo irmão mais velho Raimundo, que persistiram na busca de transformar tanta terra herdada em riqueza para a cidade, como o pai havia imaginado. Nascia desse ideal a implantação da Usina Itapirema e logo depois a inauguração do faraônico Complexo Cepalma, que transformariam Coelho Neto num celeiro de investimentos econômicos e sociais.
Hoje, 121 anos se passaram desde o seu nascimento, mas estamos aqui cumprindo com o dever de cultuar a sua memória e deixar registrado para as atuais e futuras gerações que ainda hoje colhem os frutos daquilo que Duque sonhou um dia. Estamos falando de alguém que continua vivo na memória da família e de todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer quem ele foi e o que representou.
No Itapirema, a singela capela idealizada por Genes Soares para ser o mausoléu da família passou por uma revitalização e hoje se tornou um moderno Memorial. O projeto do arquiteto Rafael Dualibe preservou a proposta original que se assemelha a duas mãos postas. É lá em meio as manhãs de opala e tardes de ametista pregadas pelo poeta Afonso Cunha que repousa os restos mortais de um homem à frente do seu tempo.
Duque Bacelar nasceu para fazer história e ser imortalizado. Mais do que isso, nasceu para ser Um Predestinado…
Samuel Bastos, é autor do livro Duque Bacelar e Filhos: Memórias de uma Saga Visionária, com lançamento previsto para esse ano
Fotos: CN Bambu