A obrigação dos cronistas de jornal é ficarem prisioneiros dos assuntos do dia a dia, senão vira jornal de ontem, isto é, superado e sem novidade.
Assim fiquei, ao sentar em frente ao computador, vacilando se abordava a especulação que fizeram de que eu vetara o Pedro Fernandes — logo o Pedro, de quem sempre só recebi provas de atenção, além de ser irmão do meu grande amigo Manoel Ribeiro — ou se ia falar dos Santos Reis Magos, cuja data hoje se comemora, num simbolismo em que se deseja afirmar que até os Reis, quando nasceu o Menino Jesus, foram adorá-Lo.
Esses Reis são personagens misteriosos desde os Evangelhos. Basta dizer que, dos quatro evangelistas — Lucas, Marcos, João e Mateus —, apenas este dá conhecimento deles.
Eram do Oriente, eram persas e foram guiados por uma estrela; logo, eram astrólogos. Existe a dúvida se eram três ou mais, pois Mateus não diz quantos eram. E quando chegaram a Belém? É outra incerteza, pois, primeiro, estiveram com Herodes, para onde os encaminhara a estrela. Foram a Belém, porque os Profetas e os Salmos, no Velho Testamento, diziam que o Messias nasceria ali e seria adorado por Reis.
Herodes manda que O procurem em outro lugar, e não em Jerusalém, e depois voltem para dizer-lhe onde Ele estava. Logo, não foi no dia seguinte ao Natal. Mas, na Manjedoura, os pintores O colocaram ali, onde permanece até hoje, pela tradição.
Herodes, então, enganado pelos Reis Magos, que não voltaram, indo por outros caminhos, mandou matar todas as crianças, de dois meses a dois anos de idade, o que dá uma ideia de que foi durante o período do Natal que os Reis Magos visitaram o recém-nascido.
Daí a fuga para o Egito.
Outra pergunta que se faz é sobre a palavra “magos”: se vem de magia, pois os astrólogos seriam mágicos, ou se vem de palavra grega que significa sábio. Assim, em vez de mágicos, seriam Reis Sábios.
Mais dúvida: seus nomes eram Baltazar, Merchior e Gaspar, mas esses nomes lhes são atribuídos em evangelhos que não os sinópticos, e sim na vasta literatura de evangelhos apócrifos encontrados depois da Ressurreição.
Há ainda outra questão: a de que não seriam reis, e sim sacerdotes ou membros de alguma seita. Afinal, tudo é dúvida.
Mas a verdade é a que está hoje na história: foram reis, eram magos, chegaram até a Manjedoura levando incenso, ouro e mirra.
Dúvida maior tenho eu quando pergunto a todos “Qual é o dia da queimação das palhinhas?”, e ninguém sabe ao certo. Se estão no Presépio, será Dia de Reis?
Mas era em Dia de Reis que, nos meus tempos de infância, se pediam presentes, em papel de seda, rendado, que ainda estão nos meus olhos, bordados à tesoura, com belas flores e galhos de palmas. Junto vinham uns versinhos que diziam: “Dar Reis não é vergonha / Vergonha é não pagar / Um coração como o seu / A mim não pode negar!”. E eram papéis perfumados!
Assim chegamos ao fim desta crônica, fugindo a temas de vetos inexistentes e louvando a memória de Zezé Caveira, que, em Dia de Reis, 6 de janeiro, no Largo de Santiago, onde eu morava, saía com suas Pastoras, no canto das pastorinhas: “Lindas pastoras…”
José Sarney