#CoelhoNeto122anos – Homenagens – A Senhora de Itapirema

duque e maria

*Bernardo Coelho de Almeida

Maior do que o nascimento é a morte de uma criatura humana. A criança no berço é apenas um clarão de existência, uma bela nota de alegria que se integra no mundo. A morte, porém, com sua profunda dimensão de tristeza, com sua expressão de eternidade, desce como a noite e, dentro dela, os sentimentos são mais fortes e infindáveis, abalam e consternam através da lembrança de luto e da saudade.

Na morte reside a grande importância da vida, o seu ponto culminante. Tudo o que tinha a ser feito foi feito. E ai são vistos os rastros, as marcas indeléveis na projeção de um caminho de um destino que mais brilhante se torna quando mais repleto de sacrifícios.

Faleceu, sábado, na cidade de Coelho Neto a senhora Maria Machado Bacelar, viúva do grande pioneiro do Baixo Parnaíba , Raimundo Bacelar – O Duque. Vida obscura de esposa, existência generosa de mãe, consagrada as funções do lar, à educação dos numerosos filhos: Raimundo (o líder), Wanda, Dalva, Antonio, José, Liz, Bernardo, Luis, Flory, Magno e Afonso. Missão anônima desconhecida de muitos, plena, entretanto, de amor e visão das coisas do mundo. E nisso consistiu sua grandeza.

Companheira de um homem corajoso, que se impôs pela luta num meio hostil e incivilizado, Dona Maria soube imprimir no seio de sua família aquele aspecto melifiuo de doçura, compreensão e cordialidade que só as mulheres-mãe tem o poder de transmitir, singelamente.

Na viuvez sua personalidade avultou-se, sempre na simplicidade e na bondade como a senhora de grande herança, vendo o papel das antigas proprietárias dos feudos medievais, à cuja sombra as guerras se anulavam. Teve então a oportunidade de manifestar plenamente sua caridade voltando-se para os pobres agregados em atenções de solicitude e ampararam a tenacidade tranquila e o espírito invencível e fortalecido nas grandes lutas, ai estão em nossa comunidade revelando o quanto foi nobre o seu coração de mãe, o quão importante a sua obscura existência que hoje se amplia e maior se torna com a morte.

Raimundo Emerson Machado Bacelar e Carlos Magno Duque Bacelar – citados apenas foi dois de seus filhos – nos dão a medida da grandeza de alma de Dona Maria, a Senhora de Itapirema.

La, no alto do morro, defronte da casa grande, na capela que se alteia sobre os canaviais e os babaçuais foi sepultado o corpo de Dona Maria Machado Bacelar. A matéria purificada pela dor volta ao seu elemento universal, integra-se na terra, no coração fecundo da grande herdade, que ela e seus filhos transformaram na primeira grande cooperativa industrial do Maranhão. É com alma leve e branca, como uma ave invisível sobrevoou dia e noite Itapirema, uma benção a nova usina de chaminé fumegante, sobre a solidão da casa grande, sobre as plantações, sobre os caminhos do passado e sobre os lares humildes dos camponeses.

*Jornalista e radialista maranhense, teve esse artigo publicado por ocasião da morte de Dona Maria Machado Bacelar, ocorrida em Coelho Neto no dia 10 de janeiro de 1964.

2 thoughts on “#CoelhoNeto122anos – Homenagens – A Senhora de Itapirema

  1. Parabéns aos 122 anos de Coelho Neto. Parabéns aos filhos desta terra que homenageiam o passado, pois como diria Milton Nascimento “…o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir..”

  2. Como coelhonetense e conhecedor da história de Coelho Neto, compartilho com a reportagem em que homenageia uma grande mulher. Parabéns a essa bela cidade…

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