Utilizando uma expressão bastante usada em nossa região: “Desde que me entendo por gente” que ouço elogios acerca do português falado no Maranhão. Criou-se uma espécie de lenda, na qual se afirma que a linguagem utilizada aqui, especialmente em São Luís (pelos ludovicenses), é sem vícios e sem sotaques, transformando-se, assim, na melhor do país.
A explicação para esse fenômeno estaria na tradição e na herança cultural e intelectual dos maranhenses, em que se destaca a Literatura, haja vista o grande número de poetas e escritores desta terra que são reconhecidos nacional e até internacionalmente. Para ficar apenas em alguns nomes: Coelho Neto, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar e Josué Montello.
Ressaltando que toda afirmação sobre temas mais abrangentes e importantes precisa ser confirmada por meio de pesquisas científicas, sempre tive a curiosidade de saber se isso realmente procedia, se não passava somente de um senso-comum. Para minha alegria, pesquisando sobre o tema, descobri que essa estória/história já havia rompido as fronteiras do nosso estado, despertando interesse por parte de vários estudiosos da Língua Portuguesa.
Verificando uma pesquisa divulgada por meio de uma entrevista do famoso, renomado e respeitado professor Pasquale Cipro Neto à Revista Veja, em setembro de 1997, constatei que, após várias observações, ele afirmara que nosso português é realmente muito bom, mas, para minha decepção, não é o melhor, mas o segundo, pois perdemos para os cariocas, que se destacam pela perfeita concordância, prova de que os muitos “esses” não são gratuitos.
Eu, cá com meus botões, fiquei a me perguntar: por que não ganhamos o primeiro lugar? Como estudioso do tema, fiz uma pesquisa de campo que me mostrou algumas falhas e vícios nossos, os quais talvez expliquem a nossa “não vitória”. Vejamos:
1 – Temos a mania de falar cantando, ocasião em que perguntamos e respondemos simultaneamente. Exemplo: “Você vai, vai?!”, “Você quer, quer?!”.
2 – Para demonstrar que algo é importante, flexionamos exageradamente o verbo ou a palavra. Exemplo: “Ontem teve uma festa. Peeeeense numa festa! Pena que teve uma briga. Lá foi briiiiga!”.
3 – Trocamos palavras por resmungos, a exemplo do “henrrem” e do “humrrum”. Exemplo: “Henrrem, menino, é tão interessado nos estudos!”, “Humrrum, não se esqueça de que tem aula hoje.”, “Ela é tão bonita. Você não acha? Humrrum!”,
4 – Temos um cacoete vicioso e contagioso, utilizado até pelos mais letrados. Exemplo: “Aquele professor de Português, ‘num tem’?!”. “Aquele assunto de que lhe falei, ‘num tem’?!”.
Novas Tendências defendem que não se teria como medir a eficiência de uma fala, pois tudo seria fruto de variações linguísticas, quando nada seria “certo” ou “errado”, apenas “adequado” ou “inadequado”. Como conservador, prefiro comungar da pesquisa do professor Pasquale acreditando que, ao corrigirmos nossas falhas e nossos vícios, nós, os maranhenses, poderemos atingir esse título (o primeiro lugar).
* Antônio Ferreira de Araújo (Toinho Araújo), é Teólogo, Pedagogo, Letrólogo, Especialista em Docência Superior e Mestre em Ciências da Educação.