José Sarney: “A cadeira da Presidência é maior do que o presidente”

A Presidência da República não é um cargo, é uma instituição. O povo tem, de quem a ocupa, uma visão do senhor de bem e do mal, que tudo pode e tudo resolve. Mas a cadeira da Presidência é maior do que o Presidente, e ninguém a modifica. Todos são por ela modificados. O Presidente deve tomar as decisões que lhe parecem melhores, e muitas vezes o tempo demonstra que não foram.

O Presidente é um ser humano moldado por educação, formação moral, cultura, experiência, família, virtudes, defeitos e temperamento. Ele está sempre aprisionado pelos problemas do tempo que governa. Não há como fugir da visão de Ortega y Gasset: o homem e suas circunstâncias.

A Presidência no Brasil, como em alguns países, tem duas faces reunidas num só rosto: a do Chefe de Estado e a do Chefe do Governo. A primeira é representar o símbolo da identidade nacional e soberania; a segunda, o barro de cada dia: fazer funcionar a máquina do Estado.

Ela tem forças próprias, que agem como leis físicas. Ela exige defender dia e noite a legitimidade de ocupá-la. É própria de sua natureza política uma constante força centrífuga, que tenta expulsar o ocupante. As surpresas impensadas ou impossíveis de prever acontecem, e nossa história está cheia de exemplos. Surgem pela incapacidade de exercê-la e de liderar pessoas, pela corrosão moral, pela desintegração administrativa, pela saúde e por pressões que são superiores à integridade humana, na obsessão de Descartes – alma e corpo. Pode transformar heróis em vilões, santos em demônios, mas pode também revelar grandes estadistas.

A Presidência mantém sua estabilidade com boa convivência com a mídia, por sua vez vocalizadora das ruas, com as Forças Armadas, responsáveis pela ordem interna, com o Congresso, com os partidos e com a sociedade.

Hoje a grande interlocutora da democracia representativa, a opinião pública, expressa-se pela mídia em tempo real, pelas redes sociais e pela sociedade de comunicação. Sua aferição de desempenho, a pesquisa de opinião pública, aliada à mídia retira, coloca e retoma a legitimidade.

Juscelino dizia que pela porta do Gabinete só entravam problemas. Os resolvidos ficavam fora. Minha vivência é que os maiores problemas da administração diária são a vaidade, a disputa, a intriga e a concorrência por espaços no governo. Estão sempre uns divergindo dos outros e o Presidente não toma conhecimento de quase nada que acontece de verdadeiramente desestabilizador ou irregular. Ter dois ouvidos, um para ouvir o presente e o outro o ausente. O Presidente é sempre o último a saber das coisas erradas e fica sem saber de outras mais. Mas termina sendo responsável por todas.

Dois dogmas devem ser abandonados. Não voltar atrás e acreditar no chavão da solidão do poder. Deve-se rever o que se fez de errado e fazer que as decisões nunca sejam solitárias: sempre ouvir, aceitar conselhos, partilhar dúvidas e buscar a melhor opção.

E nunca esquecer que uma nação é feita de historiadores para conhecer o passado, de políticos para resolver os dilemas do presente e de poetas para sonhar o futuro. E saber os versos do poeta latino Ovídio, nas Tristes:“Enquanto fores feliz terás numerosos amigos; se os tempos nublarem, ficarás só”.

José Sarney foi eleito vice-presidente em 1985 pelo colégio eleitoral. Com a morte de Tancredo Neves, tornou-se presidente da República, cargo que exerceu até 1990

Minha Oração

*Por Magno Bacelar

Neste Natal não escrevi uma mensagem aos meus queridos conterrâneos como sempre fiz. Não os esqueci, pelo contrário, estive absorto em um turbilhão de lembranças e preocupações. Resolvi conversar com Deus.

Genuflexo diante do Criador, fui desfiando, como nas contas de um terço, todas as doces recordações registradas na minha mente pela vivência e pela história desta tão jovem e amada Coelho Neto.  Da coragem de brasileiros que aqui aportaram para semear os primórdios de uma nova sociedade, aos seus descendentes, aos trabalhadores que, encantados por nossas plagas, aqui se fixaram e contribuíram para o desenvolvimento.

Houve um tempo em que fomos termo da Comarca de Buriti. Não contávamos com doutores juízes, promotores, delegados, muito embora as funções já existissem. Os cargos eram desempenhados pelos nativos (a doc.). As primeiras letras (ABC e TABUADA) eram ministradas por professoras leigas e o Direito exercido por rabulas (advogados provisionados ). Vereador não era remunerado, o cargo era relevante e dignificante, tinham o reconhecimento da sociedade. Não se conhecia supermercado, açougue e padaria, comprava-se tudo na quitanda. Não se conhecia o “progresso” de hoje, mas havia fartura de tudo, principalmente de fraternidade e amor.

Impossível resistir ao progresso ao intercâmbio comercial e cultural.    Evoluir com o mundo cuja comunicações o transformavam em uma única aldeia global. Fomos assaltados por um bombardeio de informações e influenciados por modismos nacionais e estrangeiros. O fim da Segunda Guerra Mundial destruiu mitos, tabus e dogmas. A humanidade sentia a necessidade de viver intensamente, como se não houvesse o amanhã. O trabalhador, aos poucos, foi sendo substituído por máquinas mais produtivas e econômicas. Podemos assegurar que a modernidade trouxe em sua bagagem o desemprego, o ócio e a angústia. Ocioso, o indivíduo tornou-se presa do ódio e do vício.

Evolução tão repentina provocou choque cultural que impôs um preço, por demais, elevado, principalmente nas regiões menos desenvolvidas e estruturadas, onde a tendência à imitação e ao consumismo remeteu ao crime e à violência. Desestruturada, a família impotente viu desaparecer os princípios do respeito e da fraternidade. O consumismo desenfreado conduziu ao ódio e à ambição. Os homens públicos perverteram-se transformando o ideal sublime da política em negócios obscuros e deploráveis. Neste aspecto, e para nossa infelicidade Coelho Neto, foi vítima do maior e pior descalabro administrativo e ético de todos os tempos.

É tempo de reconstruir e renovar esperanças por isso a minha PRECE é para que Deus ilumine aquele a quem confiamos os destinos de nossa sociedade. É para que a família se reúna em torno de si, retome a capacidade de amar e perdoar.  É para que sejamos capazes de superar as querelas e interesses pessoais em favor da comunidade.

Se DEUS tiver piedade e ouvir meu apelo tenho certeza de que, estaremos abrindo caminho para atender ao desejo do poeta Toinho Araújo para que tenhamo nossa Coelho Neto de volta.

*Dr. Magno Bacelar é advogado e exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, senador da república, vice-prefeito de São Luís e prefeito de Coelho Neto.