O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira cinco diplomas de doutor honoris causa, concedidos por universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro em reconhecimento a sua trajetória política e pelo desenvolvimento do ensino superior em seus oito anos de gestão no Palácio do Planalto. O evento ocorre no teatro João Caetano, no centro da capital fluminense, e conta com a presença da presidente Dilma Rousseff e do governador do Rio, Sérgio Cabral.
A batalha de Lula contra o câncer
Dispensando a bengala usada em evento na última quinta-feira na sede do BNDES, no Rio, Lula ainda assim precisou de amparo para chegar ao palco e receber a toga vermelha que caracteriza a cerimônia. Ele foi homenageado de braços dados com Dilma e ainda mancava levemente em função da recuperação de um câncer na laringe, que o deixou debilitado fisicamente. Lula foi anunciado pela mestre de cerimônia, a atriz Camila Pitanga, como “eterno presidente do Brasil”.
Após os pronunciamentos dos reitores de cinco universidades, que deram ao ex-presidente a honraria máxima acadêmica, Lula voltou a pedir desculpas por “falar sentado”, o que não é seu hábito e por deixar de lado o improviso costumeiro em seu discurso. “Estou num processo de reucperação da garganta. Quero pedir paciência para vocês”, justificou.
Por cerca de 20 minutos, entre goles de água e falhas na voz, ainda debilitada pelo tratamento contra o câncer, Lula enalteceu os feitos do seu governo no âmbito da inclusão social, sempre baseado em números, e se disse orgulhoso da honraria dada para alguém como ele, “que não teve as oportunidades escolares que todo jovem deveria ter”, mas que sempre apoia a causa da educação.
Lembrou ainda do seu curso de torneio mecânico, a única qualificação técnica em seu currículo:
“Eu sei o quanto a educação é capaz de mudar a vida de uma pessoa. Foi aquele diploma que abriu a oportunidade de um emprego e de uma vida melhor. Quero dedicar este título a todos que contribuíram com sua inteligência e esforço para melhorar a qualidade da educação no Brasil, para construir um país mais justo”. “Eu e o saudoso companheiro (o falecido ex-vice-presidente) José Alencar fomos os primeiros brasileiros a chegarem à presidência de República sem diploma universitário. Parecia que tínhamos, mas não tínhamos. Nosso governo provou na prática que é possível expandir o sistema qualificado de ensino como um todo”, completou, citando o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Ao final, ele foi ovacionado pela plateia com o tradicional grito dos tempos de campanha: “ole, ole, ole, olá. Lula, Lula!”.
Silêncio
Além dos reitores, e do próprio ex-presidente, ninguém mais discursou, nem mesmo a atual presidente da República, Dilma Rousseff, que, sorridente, ficou ao lado de Lula na mesa de cerimônia. Nem mesmo o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), fez o uso da palavra. Cabral saiu da cerimônia sem falar com os jornalistas. Ele se mantém em silêncio desde que fotos e vídeos divulgados pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR), em seu blog pessoal, mostraram sua estreita relação com o empresário Fernando Cavendish, afastado recentemente do comando da Delta.
A construtora foi citada em escutas da Polícia Federal em ligação direta com o contraventor Carlinhos Cachoeira, que junto do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), ex-DEM, é suspeito de uso de influência política em benefício próprio. Nas imagens, Cabral e vários secretários do seu governo aparecem junto de Cavendish em jantares luxuosos em Paris e Mônaco. A Delta conseguiu contratos, somente na administração Cabral, de mais de R$ 1 bi.
Honoris Causa
O título concedido ao ex-presidente da República é uma homenagem das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Federal Fluminense (UFF) e Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Doutor Honoris Causa é uma honraria concedida por universidades a personalidades eminentes que tenham se destacado em uma determinada área de atuação (desde saúde e política até causas humanitárias), e que por terem boa reputação, ganham o status de doutorado, mesmo que não tenham formação acadêmica – como é o caso do ex-presidente.
Serve também de gratidão ao trabalho de Lula como aliado do Rio de Janeiro: desde que se uniu ao governador Sérgio Cabral, principalmente em seu segundo mandato, o Estado fluminense passou a receber recursos (principalmente oriundos do Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC) que antes eram escassos nas administrações anteriores, devido à desarticulação política. Com a chegada de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio, os níveis federal, estadual e municipal de administração consolidaram de vez essa parceria.
Fonte: Portal Terra