Pedra de fogo em Tupi Guarany deu nome à propriedade que, em Coelho Neto, retrata a saga da família de Duque Bacelar. Irrigada naturalmente por riachos e olhos d’água, nela está encravada a mais extensa e fértil área de terras do município. Sua história se confunde com as da própria cidade fundada a margem esquerda do rio Parnaíba.

Onde as flores, pássaros, animais silvestres misturam suas cores e cantos ao som das ferramentas de trabalho foi edificada, no século XVIII, a Casa Grande do ITAPIREMA Em pedra e cal, muito sólida, guarda nítida a influência dos colonizadores portugueses. O telhado armado em madeira de lei e carnaúba, o piso em taboa corrida nos dormitórios e cerâmica nos outros cômodos. A esquadria (portas e janelas) em cedro é artesanalmente trabalhada. Nas bandeirolas talhadas em alto relevo, e preservadas as respectivas cores, os brasões da Republica e de Portugal. Chama a atenção as dimensões e quantidade de cômodos: salas, dormitórios, banheiros, dispensa e demais dependências.
O estilo medieval se manifesta com a anexação à residência, de engenho de açúcar, alambiques para o fabrico da cachaça, a oficina do ferreiro, uma serraria, além dos armazéns onde está armazenada toda a produção da fazenda. Destaque para o deposito de sal e a cozinha, nesta última eram preparadas mais de 100 refeições para o almoço e aproximadamente cinquenta para o jantar.

Contrastando com o bucolismo da natureza e a ingenuidade do camponês no ITAPIREMA, dos anos 1940, é possível desfrutar de alguns modernismos. Temos geladeira, gerador elétrico, rádio, caminhão e até uma camioneta FORD (a fóbica) além de uma piscina natural encravada na rocha e revestida com madeira (o tanque). O Duque, obstinado pelo progresso, fez curso de primeiros socorros, obstetrícia e ortopedia, com médicos aparentados e amigos de São Luís. Para atender melhor aos moradores e parentes, dispõe de alguns instrumentos médicos devidamente esterilizados quando em uso. Foi o Duque que fez os dezoito partos de D. Maria.
O rádio, com olho mágico para a sintonia fina, tem um único concorrente. Ao anoitecer os convidados, da casa e das redondezas, vão chegando pedindo licença e se abancando em torno do rádio para ouvir as notícias do mundo e às novelas. Já nas noites de lua, no mesmo horário, era a vez do concorrente, como que obedecendo a um comando, lá estão todos no bagaço. A cana, após passar pelas moendas do engenho, se transforma em forragem muito apreciada por gado, muares e equinos, é o bagaço muito macio e cheiroso. Em torno dele contam-se e ouvem-se histórias, pratica -se, também, lutas livres e capoeira no mais doce e macio tatame.

As reuniões, ao pé do rádio ou no entorno do bagaço, servem pra colher informações e sentir os problemas dos caboclos. Certa feita um morador se aproximou do Duque e, sem preâmbulo, pediu ajuda : seu Duque eu e a Tacila se juntemos e fumo porduzir, nasceram dois hominho e uma menina, agora a muié perdeu o rumo e eu vim pra mode o senhor criar os meus fios. Também fala-se mal da vida alheia pois, a final, somos humanos.
O tempo todo usei o verbo no presente porque este ITAPIREMA permanece vivo em nossas lembranças e perante a história. A ignorância, aliada da mesquinhez demoliu a casa, um patrimônio histórico, mas jamais conseguirá apagar o que nela foi escrito pelo homem.

Magno Bacelar é ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-vice-prefeito de São Luís, ex-senador e ex-prefeito de Coelho Neto
Linda a recordações paissagem real