Quem nasceu ou mudou-se para o Maranhão depois dos anos 70 não vivenciou o caos instalado no setor das comunicações até então. Contávamos com os Correios e Telégrafos único meio utilizado dentro do próprio Estado. Para uso externo e para o mundo dispúnhamos também, dos serviços do Cabo Submarino e a Radiofonia, em circuito fechado, para transmissões telefônicas.
Os correios responsáveis pela postagem e entrega de cartas e documentos, utilizavam-se do trem São Luís-Teresina, ônibus ainda incipiente e verdadeiramente o lombo de animais. Citemos como exemplo a cidade de Coelho Neto: postada em São Luís a correspondência era despachada de trem para Caxias, que funcionava como entreposto, de onde era redistribuída para o destino final na região. Ai surgia a figura do carteiro que, com sua tropa de burros e jumentos saia entregando correspondência de povoado em povoado, sem pressa, na paz de Deus.
No sentido contrário, quando a postagem se originava em Coelho Neto seguia o roteiro inverso com acréscimo de vir a São Luís para ser redistribuída. Os telégrafos funcionavam no mesmo prédio, utilizavam-se do Código Moss que, através de baterias e fios precariamente estendidos, respondiam pela integração nacional. As transmissões eram realizadas em horários pré-estabelecidos e em cada cidade havia um telegrafista responsável (quase sempre eram alcoólatras) pela nossa velha ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). Note-se que não havia qualquer sigilo no teor dos telegramas, pois várias pessoas aprendiam o código, ouviam os impulsos e transcreviam tudo.
O Cabo Submarino era a utilização de cabos estendidos ao longo da costa para transmissão de telegramas. Era um serviço seguro com entrega quase simultânea. Aqui administrado pela empresa Americana a Western. Receber um Western, pelo preço, era sinônimo de status.
O terceiro serviço estava a cargo da Radional, que utilizava o rádio (ondas curtas) com frequência fixa para a telefonia. Havia uma cabine, no centro da cidade, para atender ao público que falava ao telefone cujo som era injetado nos transmissores que ficavam afastados, onde hoje é o bairro Radional. O serviço era precário e sujeito às condições meteorológicas para a qualidade das transmissões. Muitas vezes o cliente se deslocava para os transmissores para tentar melhor recepção. Eu costumava dizer que passava-se uma hora gritando para depois passar um Western explicando o que havia dito.

Para suprir as deficiências internas criou-se na Rádio Difusora, um programa de recados que prestou relevantes serviços ao Estado e durou até quando a infraestrutura chegou ao interior através das estradas, torres repetidoras, a TELMA (Telefônica do Maranhão), repetidoras da Embratel e a telefonia fixa (décadas de 70 e 80). Embora funcionando em mão única, notícias sem retorno, mesmo assim era o meio mais rápido e eficiente. O programa alcançou um sucesso tão grande que chegou a ter estrutura própria: Departamento do Correio do Interior, a cargo de Dona Dalva tinha horário certo de apresentação, das 20 às 21 horas, apresentado por dois bons locutores. Estruturalmente o horário era mais um noticiário que um programa de avisos, ouvindo-o sabia-se de negócios, de política, do tempo, do movimento de marés, das festas regionais e, também, dos mexericos de amigos e vizinhos.
Funcionava assim: o caboclo chegava de barco, ônibus , trem ou caminhão e vinha direto a emissora dar notícia da chegada, se desembarcava à noite viria no dia seguinte ditava o conteúdo do recado, no seu linguajar e modo, conferia e, muitas vezes, escolhia até o locutor preferido. Não era raro ficar na emissora para assistir a leitura. Frequentemente os funcionários e locutores ganhavam presentes, lembrancinha da minha cidade, diziam os doadores. Havia, ainda um aspecto comercial, muitos usavam o veículo diariamente para anunciar mercadorias que estavam sendo remetidas para determinado comercio, outros promoviam festas em suas cidades sem esquecer o lado romântico dos recados amorosos. Criavam códigos para disfarçar informações sobre polícia, fiscalização estadual e, mesmo, para abreviar o texto redigido sob forma de telegrama. Estes códigos, às vezes, eram um desastre. Certa vez uma pessoa da Baixada precisava vender gado para abate mandou um observador a São Luís, para pesquisar o mercado de carne. Tudo bem o observador constatou que havia excesso de oferta, o preço estava muito baixo, convinha esperar melhor oportunidade para abater as rezes. Vejam o primor do aviso transmitido: “Não mande vacas, negócio boi muito mole.”
Muitos fatores precisam ser analisados para justificar este programa de tamanha repercussão que foi transformado em “UTILIDADE PÚBLICA” por Lei Estadual. A relevância dos serviços prestados justificou os meios. Retratou, fielmente, uma época. Supriu deficiências nos serviços do Governo. Foi fator de integração em região pobre e desassistida. Essas imagens que nos remetem a um passado incrível e tão recente, nos permitiram chegar até aqui escrevendo a história e detalhando o progresso de um povo.
Avançar é preciso, repovoar o interior, com sustentabilidade, também o é. Não como retorno saudosista mas para construir um futuro sólido, sem fome, sem violência e sem medo. O sonho da cidade grande acabou.
*Dr. Magno Bacelar é advogado e exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, senador da república, vice-prefeito de São Luís e prefeito de Coelho Neto.
grande merda..pra mim..no momento mais crucial não fez nada por cneto ,comentário paulistano,,,