Coelho Neto: uma cidade que sofre por ter acreditado no “discurso de mudança”…

Coelhonetenses indo embora: há dois anos atrás Américo esbravejaria com essa cena e cobraria providências, hoje no poder, apenas silencia…

A cidade de Coelho Neto sofre na atualidade por ter acreditado num “discurso de mudança” que nunca aconteceu. E é justamente pela incapacidade de fazer na prática o que parecia ser tão fácil no gogó que o prefeito Américo de Sousa (PT) se vê literalmente acuado.

A imagem de coelhonetenses deixando a cidade nos últimos dias tem sido frequente e não se viu o prefeito esbravejar como fazia antigamente. Quando estava na oposição acusava o ex-prefeito de não garantir oportunidades e hoje no poder apenas silencia porque não tem o que dizer.

As vagas de contrato que ainda poderiam ser ocupadas foram sendo reduzidas no seu governo a quase zero, pois no início de 2018 são vários setores operando apenas com concursados.

Contratados da educação foram vítima de calote no ano passado, dentistas da saúde demitidos para “economizar”, mesmo que para isso a cidade ficasse desassistida, serviço terceirizado maltrata servidores e o retrato do discurso da mudança foi apenas um engodo.

Passado um ano de governo, Américo ainda sobrevive as custas da sombra do ex-prefeito Soliney Silva. É incapaz de fazer um discurso sequer sem citar o adversário e o que é pior, não consegue apontar um setor em que tenha conseguido algo de relevante.

Cobrava empregos e hoje não consegue empregar ninguém. Falava da saúde, que hoje agoniza como nunca. Questionava a educação que se tornou uma das áreas mais massacradas do seu governo. Exigia tratamento igual entre servidores, mas na prática tem dado tratamento de choque a contratados.

A cidade hoje sofre por ter acreditado no discurso da mudança.

E o fracasso do “projeto de mudança” vai empurrando Coelho Neto ladeira abaixo…

O eterno poder de Sarney…

Ex-presidente preserva influência e percepção de que não deve ser contrariado

POR PAULO CELSO PEREIRA

Um dos últimos caciques políticos dignos dessa alcunha, o ex-presidente José Sarney viu nos últimos anos seu grupo político perder força. Em 2014, desistiu de disputar o quarto mandato ao Senado, diante da dificuldade da eleição que se avizinhava e, desde então, muitos de seus aliados bandearam-se para o lado do governador Flávio Dino (PCdoB), seu principal adversário hoje no Maranhão. Ainda assim, Sarney conseguiu preservar a percepção pública de que não deve ser contrariado.

Aos 87 anos, o ex-presidente consagrou-se como um dos maiores especialistas na arte de jogar parado na política. Em 2009 e 2011, foi escolhido para seus dois últimos mandatos de presidente do Senado, sempre negando até a véspera da disputa que fosse candidato. Três anos após deixar a Casa, Sarney segue podendo, sem usar de movimentos bruscos, escolher ministros — seu filho comanda a pasta do Meio Ambiente — e vetar indicados para a máquina federal, como se viu ontem com o desconvite ao deputado Pedro Fernandes, do PTB.

O alerta ao Planalto sobre a provável crise que se anunciaria com a nomeação de Pedro Fernandes para a Esplanada veio através da bancada de aliados do ex-presidente no Congresso. Das três vagas maranhenses do Senado, duas têm como titulares nomes com vínculos históricos com Sarney — Edison Lobão e João Alberto Souza. Na Câmara, mesmo após a debandada pró-Dino, um terço dos 18 deputados federais do estado ainda tem ligações com o ex-presidente.

Se não bastasse a celeuma com parte da bancada maranhense, Sarney ainda é visto como uma referência dentro do grupo que há quase duas décadas comanda o Senado — que tem como pilares o líder do Governo, Romero Jucá, e Renan Calheiros, ex-presidente da Casa por quatro mandatos.

Do Blog do John Cutrim

A imortalidade do poder de José Sarney…

Como poucos, José Sarney merece o epíteto “imortal”, comumente empregado aos membros da Academia Brasileira de Letras. Literatura à parte, o ex-presidente parece mesmo politicamente indestrutível. Nem cabe aqui mencionar a fortuna que o levou pelos braços à presidência da República; menos ainda a mágica que produziu a ponto de se eleger, anos a fio, senador por um estado que não é o seu, o Amapá. Impressiona, o seu poder: a capacidade de renascer das cinzas, como se uma fênix morasse em sua alma.

Teve importante papel na transição do período autoritário para a democracia – após ter sido linha de frente do regime. Viveu a glória, com as tabelas e tablitas dos ineficazes congelamentos de preços, mas foi levado aos infernos após o fracasso do Plano Cruzado; viu os “fiscais do Sarney” desaparecerem das ruas e sua popularidade cair ao rés-do-chão; manietado por Ulysses Guimarães e pela Constituinte, conseguiu garantir 5 anos de mandato.

Em 1989, ao final do governo herdado de Tancredo, era o sparring favorito dos principais candidatos à sucessão; virou piada e nome de CPI (a “CPI do Sarney”). Seus dois mais agressivos adversários foram ao segundo turno, sem que qualquer aliado superasse, nas urnas, as marcas do risível. Recebeu de Fernando Collor de Mello a ira dos fanáticos.

Mas, sacodiu a poeira: não apenas manteve o poder na província, elegendo aliados ao governo do Maranhão, como também preparou a filha, Roseana, para um longo período de domínio no Palácio dos Leões. Comeu o mingau frio da vingança com a desgraça e o impeachment de Collor; regozijou-se com o néctar da “volta por cima”.

De volta ao Senado, pelas mãos do povo do Amapá, fez-se referência, sacerdote dos conchavos e dos acertos de bastidores. Presidente daquela Casa por 4 legislaturas, nomeou ministros; definiu cargos e investimentos; contemplou amigos. Rompeu com aliado Fernando Henrique Cardoso quando, em março de 2002, a Polícia Federal do tucano flagrou a bagatela, para aqueles tempos, de R$ 1,3 milhão no escritório de seu genro – o que viabilizou José Serra e enterrou as pretensões presidenciais de sua filha.

Mais uma vez, se imaginou que a oligarquia estivesse em vias de desaparecimento. Foi resgatado, no entanto, por Lula. Retornou aos céus e se instalou como a pessoa mais influente da República. Para Lula, Sarney não era uma “pessoa comum”; não poderia ser medido com a mesma régua dos mortais. Estrela do PT, Aloízio Mercadante, recebeu enquadrada histórica do companheiro Lula, nome da preservação da excepcionalidade de José Sarney.

Também sob Dilma, exerceu grossa influência; fez indicações, protegeu interesses, definiu caminhos. Durante todo o período do PT, permaneceu incólume, sendo a “pessoa incomum” de quem Lula falou. Por fim, em 2014, votou em Aécio – “o neto de Tancredo”— como sinal de gratidão. Agarrou-se ao Senado até que a idade se impusesse e o poder, aparentemente, desvanecesse.

Desistiu de concorrer; contestada, sua filha viu a província mudar de mãos. Teve o nome arrolado aos escândalos da Lava Jato; submergiu. A maledicência dos mortais, chegaram a cogitar: “hora de morrer?”. Entregaria seu corpo e espírito às mãos do Todo-poderoso, o juiz Sérgio Moro? Tola ilusão; claro que não.

Mais uma vez, Sarney ressurgiu das cinzas. Nem se pode dizer que tenha se rearticulado – ninguém retoma aquilo que nunca se rompeu. Também sob Michel Temer, o imortal dá as cartas – agora, em parceria com Renan Calheiros, seu herdeiro de verdade; como oligarquia e na pretensão à imortalidade. Em dupla, conseguiram emplacar Edison Lobão – outro citado pela Lava Jato — como presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde há de sabatinar — e aprovar — o futuro juiz do Supremo, Alexandre de Moraes.

Tudo muda, a terra gira. Mas, no Brasil, alguns fenômenos são perenes; sendo sempre o que sempre foram: o poder de verdade. Sempiternos, sem começo e sem fim. Postados no altar do tempo, de onde, ao que parece, jamais serão removidos. Sarney, esse Thor, filho de Odin, é um deles.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.